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‘Tragédia Bolsonaro’ pode levar setores da elite a reatar laços com Lula

A avaliação é do cientista político Josué Medeiros. Candidatura do ex-presidente, acredita, é a única capaz de enfrentar o antipetismo.


ALEXANDRE PUTTI 9 DE MARÇO DE 2021 - 12:07


Segundo o cientista político e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Josué Medeiros, a volta de Lula é uma cereja no bolo para uma derrota do ex-capitão, mesmo que o sentimento antipetista continue forte na sociedade.


“O ano de 2018 mostrou isso. Lula liderava as pesquisas mesmo preso. O antipetismo é muito forte, mas é diferente enfrentá-lo com Lula na cabeça da chapa. O único que tem chances de enfrentar o antipetismo é o Lula”, diz o professor entrevista a CartaCapital,


Se Lula decidir concorrer, muitos se perguntam qual de suas várias facetas vai predominar. O Lula mais à esquerda das eleições 1989, ou o mais moderado, como em 2002? Para Medeiros, só há chances de vitória se o petista dialogar com diversos setores da sociedade, como fez quando presidente.


““É bem difícil a esquerda ganhar sem dialogar com o mercado. Não é viável ganhar sem um pacto que os envolva. O que mudou com relação a 2016/2018 é que parece haver uma disposição de vários setores da elite em conversar de novo com o PT, agora com o Lula no jogo.”.


Fracasso da direita e pandemia


A elegibilidade de Lula, contudo, não é o único fator que fortaleceria a esquerda em 2022. Medeiros cita o fracasso das políticas liberais e a condução de Bolsonaro na pandemia como chaves para sua eventual derrota.


“A pandemia cobrou que ele [Bolsonaro] olhe para todos, e não só para seus seguidores. Mas não é isso que ele tem feito. Vai ser muito dramático ver três mil pessoas morrerem por dia, se continuar no ritmos que estamos.  É um resultado de guerra. Essa conta chegará para Bolsonaro".


O cientista político aponta ainda o exemplo de países vizinhos, onde o fracasso de experiências neoliberais pavimentaram o retorno da esquerda. “O liberalismo não melhora a vida das pessoas, e isso abre caminho para a esquerda voltar. Foi o que aconteceu na Argentina e na Bolívia, por exemplo.”


Mas pondera que existe, em paralelo uma tendência global de popularização do conservadorismo. “Esse é um cenário diferente dos anos 80 e 90 com a redemocratização da América Latina. Isso levado a governo de esquerda mais moderados, menos ‘bolivarianos’. No atual quase tem prevalecido uma esquerda mais moderada, mas não sabemos ainda se esses governos terão fôlego. E há ainda a situação chilena, com uma renovação da esquerda vinda desde baixo. Isso pode ocorrer aqui também”, afirma.


A união da esquerda


Desde que Bolsonaro foi eleito, muito se fala sobre uma frente ampla, unindo partidos de esquerda e centro contra o atual presidente. Apesar de vários ensaios, essa concertação nunca saiu do discurso. A redenção de Lula, avalia Medeiros, muda também esse cenário.


“Com Lula muda tudo, tudo. Sem ele, poderíamos pensar em uma fragmentação da esquerda em 2022, com quatro candidatos. Com o petista no jogo, acho difícil essas quatro se manterem”, diz Josué. Para ele, o país precisa de um pacto democrático como aconteceu no momento pós-ditadura, que vários setores se uniram para reconstruir o País. Provavelmente será Lula e Ciro, mas o quadro para o pedetista complica muito. Se Lula se manter forte e sustentar sua liderança, a capacidade de atração vai ser muito grande. Isso vai prejudicar o Ciro.”




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