MST e Sindipetro doam 15 toneladas de alimentos e 520 botijões de gás em Curitiba
Doações chegaram a cerca de 700 famílias de 4 bairros da capital paranaense neste sábado (13)
A união entre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (Sindipetro-PR/SC) resultou na doação de 15 toneladas de alimentos e 520 cargas de gás de cozinha em Curitiba, na manhã deste sábado (13). As ações chegaram a cerca de 700 famílias da Vila Portelinha, do Santa Quitéria; da comunidade 23 de agosto, do Osternak; do Sabará, na Cidade Industrial; e da Vila Santos Andrade, do Campo Comprido.
Arroz, feijão, mandioca, legumes, frutas e hortaliças fizeram parte da cesta com quase 22 quilos cada pessoa pode levar para casa. Os alimentos vieram direto das roças e hortas das 370 famílias da comunidade rural Maila Sabrina, localizada em Ortigueira, região norte do Paraná. Cerca de 700 também foram produzidos pela comunidade em mutirão. O acampamento tem 17 anos e luta pela efetivação da reforma agrária na área. Além de produção farta e diversificada, a comunidade tem escola, igrejas, unidade de saúde, espaço comunitário para beneficiamento de alimento, lazer e esporte.
Para Roberto Baggio, da direção nacional do MST, a iniciativa unitária entre os trabalhadores do campo e da cidade “fortalece a solidariedade do nosso povo para seguir nas lutas pela frente, para evitar as mortes e cuidar para que ninguém adoeça e morra”. Com a ação deste sábado, acampamentos e assentamentos do MST chegaram à marca de 183 toneladas de alimentos saudáveis doados. Além de comida na mesa de todos, ele aponta a urgência em cobrar do Estado a garantia de renda para todas as famílias e ampliação do SUS.
O dirigente vê nas ações solidárias o combustível para a resistência neste tempos de crise estrutural. “Que a cultura da solidariedade se espalhe no Brasil inteiro, com um alimento que vitaliza as pessoas e um gás que aquece e estimula nos próximos meses uma grande rebelião nacional e popular para afastar imediatamente o Bolsonaro do poder, para que possamos reconstruir um Brasil solidário, humano e com mais justiça social”, garante.
Além de buscar a superação da fome, garantido o alimento in natura e o gás para a preparação, Alexandro Guilherme, presidente do Sindicato dos Petroleiros, explica que a iniciativa cobra preços justo para o gás de cozinha. Apesar de ser essencial para a garantia do direito à alimentação, no último dia 25 maio a Petrobras anunciou um reajuste de 5% no preço do item. Na capital do Paraná, o botijão de 13 quilos de gás custa entre R$ 60 e R$ 80. “Por que nós, que produzimos e refinamos o petróleo aqui no país, somos obrigados a pagar tão caro nos combustíveis e gás de cozinha?”, questiona Guilherme.
As cargas de gás doadas tiveram grande participação dos petroleiros trabalhadores da Refinaria Getúlio Vargas (Repar), de Araucária, de onde sai o produto. “A nossa solidariedade é de classe, dos trabalhadores que hoje, no meio da pandemia e da crise econômica, mantém alguma renda, uma produção, e que hoje ajudam pessoas que perderam a sua renda. É uma comunhão da classe operária unida. Quem pode ajuda quem não pode”.
Para chegar realmente às famílias mais afetadas pela crise, a ação foi organizada com conjunto com as associações de moradores das comunidades, além da Escola de Samba Embaixadores da Alegria, do Coletivo Alicerce, de integrantes da Batalha do Parigot, da Rede de Solidariedade e do Movimento de Organização de Base.
Luta por terra, no campo e na cidade
Jocelda de Oliveira, integrante da coordenação da comunidade Maila Sabrina, de Ortigueira, explica como é possível um acampamento rural doar tanta quantidade e variedade de alimentos: “Cada família dá um pouco do que tem, da produção que tem para o sustento, porque entende a necessidade de ajudar o próximo”.
Entre as centenas de camponeses doadores de alimentos está Marli Fernandes da Silva Rosa, que também fez parte do mutirão que produziu os pães. Ela mora na comunidade desde o início da ocupação, há 17 anos. “Com palavras não sei nem descrever. Eu gosto muito daqui. Aqui é meu pedacinho de céu. Quando eu morava na cidade eu não tinha a liberdade que eu tenho aqui, não tinha a paz e o sucesso que a gente tem aqui, a convivência com as pessoas”.
Mesmo sendo uma comunidade consolidada e o lar de milhares de pessoas, Maila Sabrina sofre constantes ameaças de despejo. Situação parecida com a vivida por famílias que recebem as doações neste sábado. Arildo Ribeiro Taborda, conhecido como Dido, é presidente da Associação de Moradores da Vila Portelinha. A ocupação urbana é formada por 320 famílias, grande parte com a renda vinda do trabalho com coleta de materiais recicláveis. Entre as principais lutas está o direito à moradia.
“A nossa luta também é por regularização fundiária. Estamos aqui há mais de 10 anos e a gente sofre porque não temos água, não temos luz pra todo mundo”, conta. A gente se mobiliza luta cada dia pela terra da gente, que somos famílias carentes. Hoje a luta é mais difícil por causa dos nossos governantes que não ajudam a classe pobre”, avalia Dido.
Em um cenário de descaso do poder público, o apoio recebido neste sábado chegou em boa hora. O gás da casa de Maria Dolores de Paula acabou a pouco mais de uma semana. Desde então, ela cozinha o alimento para as 8 pessoas moradoras da casa usando fogão à lenha. Para conseguir a madeira, recolhe na própria comunidade e ganha dos vizinhos.
A renda familiar diminuiu desde o início da pandemia da covid-19. Maria é empregada em uma empresa terceirizada, faz serviço de limpeza e teve o vale-alimentação cortado. “Era pra gente escolher, ou ficava com o vale-alimentação, ou ficava com o emprego”, relata.
No meio da rotina de trabalho e ajuda no cuidado dos 6 netos que vivem com ela, Maria destina tempo para usar seus conhecimentos de costura para fazer máscaras de tecido. “No horário que eu chego [do trabalho] eu faço máscaras pra doar pra comunidade. O pouco que a gente pode, vai se ajudando. Meu sonho sempre foi de poder ajudar o próximo. Eu gostaria de ter mais pra poder ajudar, mas que Deus dê força pra nós continuar lutando”.
Dido vê na ação deste sábado um passo importante para firmar a união entre trabalhadores do campo e da cidade para a luta por melhores condições de vida, e frisa o papel dos assentamentos e acampamentos para garantir alimento para a cidade. “Temos que agradecer os nossos grandes amigos do MST, que estão na luta todo o dia, por plantar comida e trazer pra cidade. Nossos governantes têm que ver que o MST planta e distribui pra cidade”.
*Editado por Fernanda Alcântara