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MTST arrecada mais de R$ 480 mil em mantimentos destinados a sem-tetos

Meta é alcançar, com vaquinha, 600 mil reais e ajudar mais de 50 mil pessoas das periferias e dos acampamentos do movimento em todo o País

Enquanto o Brasil vai se adaptando a ficar em casa por conta da pandemia de coronavírus, há uma parcela significativa da população que não tem uma casa onde ficar – ou, mesmo se tem, não possui condições propícias a um distanciamento pessoal mínimo. Em resposta a este cenário, o Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST) resolveu criar o Fundo de Emergência para os Sem-Teto, que já arrecadou mais de R$ 483 mil, em duas semanas, para serem destinados às famílias acampadas com o movimento ou às comunidades de baixa-renda que são assistidas por eles.

“O movimento atua em 11 estados e, além das ocupações, nós fazemos trabalhos em núcleos territoriais, em bairros e comunidades sem ocupações. Essa solidariedade vai além do que é a militância do MTST e além dos nossos acampados”, explica Erika Sampaio, militante que faz parte da coordenação estadual do movimento em São Paulo.

Sampaio, que é médica de formação, explica como funciona a grande operação existente para fazer com que alimentos, medicamentos, itens de higiene pessoal – incluindo álcool gel – e outros materiais de limpeza cheguem às mais de 50 mil famílias que o movimento consegue abarcar: são 3.500 pessoas trabalhando entre a coordenação, a distribuição dos alimentos e a prestação de contas.

Depois de passar de 14.500 pessoas atendidas, a próxima meta é chegar até 36 mil pessoas – e manter o projeto operante enquanto a pandemia assim demandar. Para isso, o valor médio de arrecadação deverá chegar aos R$ 600 mil.

Na linha de frente, os relatos partem principalmente de mulheres militantes no movimento que, em algum momento, estavam do lado oposto do que estão agora. Para Jussara Basso, uma das coordenadoras de São Paulo, a doação de mantimentos têm “superado as expectativas” que ela tinha em relação ao potencial da doação, mas ela ainda percebe falta de comunicação, por parte das autoridades, com aqueles que não têm como se isolarem completamente uns dos outros.

“Um companheiro com suspeita de coronavírus mora com cinco pessoas em um lugar com dois cômodos. O quarto onde ele tem não tem porta. Uma coisa é você ficar isolado num apartamento dividido, outra coisa é ficar numa casa assim com cinco crianças. O coronavírus escancarou uma desigualdade e uma falta de estrutura de vida da população mais pobre.”, relata.

Eliane Silva, uma militante de Alagoas, acrescenta que a falta de cuidado com as políticas sociais dos últimos anos tem pesado ainda mais agora, que a maior parte dos trabalhadores é informal e com direitos sociais afrouxados, como foi o caso da previdência. Nas cozinhas coletivas das três ocupações do MTST no estado – duas em Maceió e uma na região do agreste alagoano -, Eliane relata um aumento no número de famílias que vai buscar, dentro dos acampamentos, algum tipo de auxílio para comer.

“Além de atender as pessoas das ocupações, atendemos também as comunidades periféricas, como pessoas de idade, mulheres chefe de família, e também moradores de rua e mulheres trans, todo o público mais vulnerável nesse momento.”, diz. “Parte dessas famílias já se alimentava dessas cozinhas coletivas, e agora isso afeta diretamente as famílias mais pobres do país”. Na região, a Universidade Federal de Alagoas e o Instituto Federal de Alagoas também realizaram a doação de mais de 1600 litros de hipoclorito de sódio, utilizado para higienização de superfícies e vestimentas.

Para Eliane, Jussara e Erika, a incerteza com o tempo é a maior preocupação: ao passo que os números de coronavírus aumentam em ritmo exponencial no País, também se elevam as famílias que buscam assistência mínima de sobrevivência em tempos de isolamento social – incluindo mais informações sobre a pandemia e os auxílios aprovados pelo Congresso.

Junto com as doações, os voluntários têm sido orientados a passarem medidas básicas de prevenção e cuidados às famílias e disponibilizado folhetos que contém números assistenciais do MTST – como o da Brigada de Saúde, que reúne médicos ligados ao movimento. Dúvidas sobre a disponibilidade da renda básica emergencial também aparecem. Para Jussara, os trabalhadores estão preocupados com as possíveis restrições nos CPFs e estão se arriscando ao comparecerem na Receita Federal ou na Caixa em busca de respostas sobre o auxílio.

“O que é mais revoltante é ver que as mulheres chefes de família e não beneficiárias do Bolsa Família ficaram em segundo plano na ordem de recebimento do benefício. Este é um grande problema. Falta informação e boa vontade política.”, opina.

Famosos por suas figuras mais proeminentes na política – como o coordenador nacional e ex-candidato à presidência pelo PSOL, Guilherme Boulos -, o MTST não é um movimento partidário, mas sim de solidariedade e compromisso político às causas sociais, explica Erika Sampaio. “A ideia não é só entregar uma cesta básica, mas é estender solidariedade em um momento de dificuldade. Conversar um pouco, passar orientações sobre a pandemia. É um momento de escuta e de acolhimento.”, explica.

Para Eliane Silva, o importante, no momento, é incentivar que as doações continuem para não desabastecer as cozinhas coletivas e a compra de mantimentos básicos para aqueles que estão desassistidos há muito tempo, mas mais ainda em um contexto de pandemia. Para ela, só a partilha traz as respostas necessárias para o momento. “A vida é muito mais importante do que qualquer outro discurso de pensar em lucros ou riquezas. Não existe futuro sem partilha para poder ajudar a continuar alimentando essas famílias”.

Como doar?

Para fazer sua doação, acesse o link do fundo de emergência criado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto.

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